terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Cãocanhar


Helena tem um cachorro, que apesar de caramelo, é rabugento. Mas ele consegue adoçar a casa toda por existir. Aquiles é um pouco idoso, carente e nem toda a atenção do mundo é suficiente. Para fazê-lo sorrir fingimos estar numa festa onde ele é a cereja mais desejada do bolo, o cão mais especial. Então tudo fica alegre.
E ele late quando eu bato a porta até perceber que sou eu.  Depois, vai à frente, espera eu sentar e deita ao meu lado para demonstrar que sentiu saudade e receber carinho. Não importa quanto tempo eu demore a voltar.
Aquiles me conquista pela sua maneira de ignorar as brigas e seguir brincando sem rancor. E mesmo sabendo que faz algo errado, ao que parece, repete para me fazer rir. Porque quando Helena briga, eu rio, com ele, por dentro.
Os pelos de Aquiles, são como os cabelos de Helena e os olhos também. Suas personalidades se parecem às vezes: os medos de tormentas e artifícios, o tédio repentino, o carinho e a ansiedade. Aquiles come de tudo, como um saquinho sem fundo! Helena é mais controlada.
É um cão bem chantagista, no melhor dos sentidos. Às vezes, ele me chama para brincar, corre com a bolinha na boca até a guia, olha para ela, depois para a porta e sem falar nada, já sabe que eu irei entender. É hora do passeio!
Comigo Aquiles corre e se comporta bem, como se nós fossemos uma equipe de amigos de infância. E foi assim que fizemos parte um da vida do outro e dormimos juntos na última noite. Sinto nele ingenuidade e bom coração. E não importa se o dia está nublado, um faz o outro sorrir. Ele é o melhor cachorro que eu já tive, mesmo sem ser meu.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fugindo...


Helena foi a primeira pessoa que eu quis ver quando voltei de viagem, contudo ela foi a última, nos vimos por acaso. Ela andava ocupada com a vida que seguiu na minha ausência. Vida ótima e cheia de cultura. Viva! Acontece que eu, tinha erradamente para mim, que Helena ainda estava comigo, mas, na sua opinião, todos estavam com ela, mais fortemente aqueles que se fizeram presente em sua nova rotina.
No fundo, eu me enchi de frustrações infundadas pelo meu desejo de estar com ela e não conseguir. Pela minha vontade de dizer sobre a minha saudade e outras tantas coisas que eu não pude. Então, quando vi Helena eu, pura e simplesmente, paralisei em meio a um vendaval de sentimentos. Lá estava eu entre a lástima e o bem querer.
Mesmo assim, do meu jeito torto, não a recusei. Ao mesmo tempo, não a recebi desarmada, eu me sentia confusa. Mas as nossas trocas de carinho foram me dissolvendo e quando eu, enfim, correspondi Helena havia mudado. Não sei bem se com o vento sul ou com a chegada de outras pessoas. Algo nela havia mudado completamente e eu não sei, nem nunca soube como agir nestes momentos. Helena estava arredia e ríspida. Ferida, talvez...
Num lapso de preocupação perguntei três vezes se ela estava bem, mas Helena não estava mais comigo. Meu abraço estava frio, no seu olhar pairava a névoa de tristeza. Eu precisava ir para casa com minhas próprias pernas e meus sentimentos soterrados. Helena precisava fugir.

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