segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pequenos paraísos


Sempre tive meu lugares secretos. Para ficar somente companheira de meus próprios pensamentos, buscava os lugares mais calmos, mais distantes, e por vezes mais lindos. Com cerca de 150 hectares sob meus pés nunca foi difícil. Minha fazenda abrigava inúmeros desses recantos que ninguém mais conhecia. Eu me tornei então íntima das pedras, das árvores, do vento, e do chão sempre vivo sob minha própria vivacidade. Lembro especificamente dos tantos entardeceres em que sentia o vento fresco acariciar minha pele e arrepiar minha nuca. Por cima do ponto mais alto, de onde via tudo o que se passava. E mesmo assim ninguém lá me via. E sempre testemunha havia a respiração calma de um cavalo a ditar os batimentos de meu coração e o ritmo dos meus pensamentos. Alguns com mais paixão que outros, mas sempre o cavalo a ser cúmplice silencioso dos meus segredos. Meus lugares secretos. Onde ninguém que me conhecesse poderia me encontrar, sequer conheceriam.

Mas pouco a pouco os lugares secretos foram perdendo seu mistério. Os olhos que me conquistavam, acabavam também conquistando a vista que um dia houvera sido somente minha. E um a um, foram desaparecendo os lugares secretos. E fui criando outros, encontrando recantos cada vez mais escondidos. Fugindo de um, me refugiando em outro.

Porto Alegre também guarda segredos meus. Com seu silêncio contido, a respiração da cidade é mais sutil que a que estava acostumada. Mas mesmo assim se faz perceber em raros momentos de calma. Não só meus, mas no meu imaginário sou a única a pisar em certas calçadas, onde meus pensamentos se enredam aos meus pés como que uma rede, que ora me faz tropeçar, ora me rende os mais lindos peixes. E sinto o ar da cidade, vibrante e nostálgico, dar um tom diferente ao meu pulsar, sem saber exatamente encontrar o lugar onde estarei inteiramente em paz com meu próprio pensar.

E de um em um, vou fugindo dos lugares secretos, vou buscando outros, sempre achando haver uma paisagem bonita atrás da cada muro, ao virar de cada esquina. Como que migrando, uma ave que vive por buscar o lugar adequado, sempre querendo algo logo além.



Até me esconder em um lugar secreto dentro de mim mesma. Mas aí nem eu própria consigo me encontrar.