domingo, 10 de abril de 2011

De poros bem abertos...

A vida é um grande clichê. O amor é o que nos aquece. Então, numa noite qualquer, em hora qualquer, em rua nenhuma a lua se mostrará crescente e eu quererei estar contigo pelo simples “estar”; que por si, não é simples.
A dama da noite reina e transborda o cheiro dequela que eu tenho sempre em pensamentos. E eu ouço como se todos os meus poros, neste momento, estivessem abertos, inevitavelmente, para o mundo.
A igreja permanece ali, no sereno, cor de rosa, sob a lua que só quer crescer, sob as nuvens gotejantes e eu prossigo. Por quanto tempo?
Carros, sirenes, bombeiros, cachorros. O gato mia um miado lamentoso para me atrair e me mostra as garras para me ferir. O mundo é uma guerra a qual não há esquivar-se. Um jogo precisa ser jogado e o campeonato será no fim de abril. O poodle quer minha atenção, mas ele é branco e nunca cortou as unhas. Eu quero chutá-lo, porém sou contra a violência física e tolerantemente dou-lhe um estalo de dedos e um sorriso. Ele dormirá tranqüilo: comeu, bebeu e passeou; sonhará com um sorriso.
Alguém faz aniversário, mas eu cheguei tarde para os parabéns, a festa acabou e as mães levam fatias de bolo para casa junto com seus filhos suados que cansados dormirão sem banho. A garagem enfestou-se pulgas e a faxineira não ganhará hora extra, o velho senhor, já caduco, espana a almofada da cadeira a meia noite para evitar a lepra trazida pelo gato preto que vigia a esquina. Ele não me olha. Os meninos param de falar quando eu passo de cabeça baixa. Na frente deles, o aleijado acaba de falecer. A vizinha velha, acaba de morrer e eu dançarei um samba ao entrar em casa, sozinha na sala de jantar. Sua filha chora enquanto eu danço. A menina apanha enquanto a mãe chora, a pequena não tem culpa, mas a sua progenitora precisa exorcizar suas raivas e ela é a escolhida.
Eu entro em casa como quem percorre um labirinto nunca explorado, no escuro tateio cacos de vidros. O carro está estragado e virará abóbora. Invado a casa com cheiro de peixe frito e me tranco no quarto. Não quero mais ouvir, não quero mais palavras, musicas ou cricrilar de insetos. Faça-me surda, aliena-me, não suporto tanta informação antípoda ao meu umbigo.
Alguém acaba de se suicidar, eu estou viva.