segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Eletrocardiograma

Quando conheci Helena, numa noite nublada, a ignorei. Mas ela não fez o mesmo. E depois das milhares de doses que eu bebi naquela noite, lembrei dos filmes que comentamos e dos seus olho no outro dia. Os olhos de Helena foram tão marcantes que eu nem prestei atenção nas suas pernas.
Quando eu conheci pela segunda vez Helena, tive a falsa impressão de que ela já havia feito sexo com mais da metade dos rapazes e raparigas que eu conhecia. E eu mal conseguia acreditar que ela, tendo contato com a maioria deles, nunca tivesse cruzado seus olhos nos meus.
Quando eu conheci Helena, eu não a conheci. Talvez eu ainda não a conheça depois deste mais de um ano de conhecimento. Me soa bastante estranho dizer e aceitar esta condição de não-conhecimento, mas foi assim que eu não conheci Helena e não conheço a maioria das pessoas, inclusive a mim mesma.
Os olhos de Helena são, provavelmente, únicos. E apesar dela saber e até se gabar disso falando “Sim, eu sei que todos me querem” ela age displicentemente. Helena tem um momento de olhar que me petrifica e em silêncio eu digo “Eu poderia morrer agora.” Mas morrer com um olhar não está, nem nunca esteve, na moda e nem na minha lista de coisas para fazer hoje.
Quando eu não-conheci Helena, pois já disse que até hoje não a conheço direito, ela esperava um filho só seu. Fruto de uma produção coletiva. Era uma flor forte e brilhante que crescia com o passar dos dias em um pote de margarina. Aliás, voltando um pouquinho no tempo, preciso dizer que ela tem um jeito de agir descontrolado – para aqueles que ainda acham que têm algum controle sobre as coisas do mundo, no caso. – Ela não se importa em mostrar o corpo e se divertir loucamente consigo mesma transgredindo todas as “normalidades”. Assim, para Helena, despir-se em público é apenas uma forma de dizer “vem gente! Vamos fazer o que temos vontade neste momento!”. Acontece que esta gente, que não tem coragem de tentar conhecer Helena, acaba mal interpretando as suas atitudes e classificando-a em gavetas que não lhe cabem. Helena é como um trianglo num mundo esférico. Meu mundo, apesar de esférico, é de silicone como os alargadores das orelhas de Helena. E ela me disse que todos aqueles que tentaram aparar suas arestas, saíram quicando para outros lugares, tal qual bolas de borrachas.
Helena diz não se importar com o mundo, nem com os outros, mas não fala isso de verdade, se falasse, não seria vegetariana, nem escreveria sobre mulheres, não se magoaria por dizerem que ela é louca ou estranha, não sentiria ciúme, nem desejaria outras mulheres platonicamente. Além disso, ela não ficaria confusa quando alguém está triste por algo que ela fez sem perceber. Já encontrei Helena triste por algo que ela não fez, mas se culpou.
A parte que eu conheço dela não faz planos, nem pensa no “daqui a pouco”. Acho que Helena prefere não pensar em nada, esta é a sua forma de escudo. Porque no fundo ela se importa, mas tem um pouco de medo de tudo: dos planos que podem não dar certo, das pessoas que podem não valer a pena e de todas as regras que tentam nos controlar. Já me disseram que Helena não vale a pena e talvez ela ache isso de si mesma, no fundo, mas hoje eu não a conheço para afirmar ou negar essa hipótese.
Mesmo que eu não conheça Helena, e que ouça ventos dizendo que todas os caminhos levam ao abismo, eu gosto quando ela segura a minha mão para andar. E curto quando ela me conta sobre suas viagens, que eu nunca farei. Cinema, arte, teatro, fotografia... e das suas dancinhas engraçadas. Mais do que isso, eu gosto do que Helena significa. E eu fico observando quando ela fala muito e ouço com paciência por horas, então, “do nada” ela pára e sorri com a boca, com os olhos e me estende a mão. Então eu me sinto bem por fazê-la alegre naquele momento.
Entre todos os meus bloqueios e frases guardadas, já disse que ela está sendo o meu ponto de equilíbrio, neste momento. Helena tem muitos momentos e pouquíssima linearidade. Acho que ela e eu somos um eletrocardiograma.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Milhões de frases sem nenhuma cor

Quase todas as mulheres - por que agora passei a me ver mulher, e não menina... ou ao menos assim me chamar - ao meu redor tem gatos. Eu resolvi suportar sozinha minha própria solidão. Sozinha. Gatos já nos significaram desapego. Hoje vejo pouco além de dúvidas, e lagrimas escondidas por trás de olhos brilhantes. Confesso que um miado na varanda me trás esperança. Em certos dias nublados o ronronar em meu colo acalmaria meu não-dormir.

Minha geração parece impregnada de solidão. Cada vez mais próximos, cada vez mais na multidão. E mais sozinhas. As mulheres fortes, cada vez mais frágeis. Não há um rosto que não passe um pingo de cansaço, de desesperança. Se agora fosse um filme, agora seria o momento dos vídeos curtos de confissão. E elas todas falando com vozes e línguas e palavras e sotaques diferentes exatamente as mesmas emoções. Tiraram de mim o que eu tinha de mais precioso. Onde esqueci minha paz de espírito? Não há ninguém que possa me oferecer um abraço? Me sinto sozinha e me escondo dentro de mim mesma. Me sinto solitária. Solitária. Me devorando por dentro. Solitária.

Essa solidão coletiva é quase irônica. Se não fosse solitária.

Os gatos dominando nossos corações. Os homens partindo. Os gatos nos trazendo aconchego. Os dias nos trazendo vazio.

She comes and goes

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pequenos paraísos


Sempre tive meu lugares secretos. Para ficar somente companheira de meus próprios pensamentos, buscava os lugares mais calmos, mais distantes, e por vezes mais lindos. Com cerca de 150 hectares sob meus pés nunca foi difícil. Minha fazenda abrigava inúmeros desses recantos que ninguém mais conhecia. Eu me tornei então íntima das pedras, das árvores, do vento, e do chão sempre vivo sob minha própria vivacidade. Lembro especificamente dos tantos entardeceres em que sentia o vento fresco acariciar minha pele e arrepiar minha nuca. Por cima do ponto mais alto, de onde via tudo o que se passava. E mesmo assim ninguém lá me via. E sempre testemunha havia a respiração calma de um cavalo a ditar os batimentos de meu coração e o ritmo dos meus pensamentos. Alguns com mais paixão que outros, mas sempre o cavalo a ser cúmplice silencioso dos meus segredos. Meus lugares secretos. Onde ninguém que me conhecesse poderia me encontrar, sequer conheceriam.

Mas pouco a pouco os lugares secretos foram perdendo seu mistério. Os olhos que me conquistavam, acabavam também conquistando a vista que um dia houvera sido somente minha. E um a um, foram desaparecendo os lugares secretos. E fui criando outros, encontrando recantos cada vez mais escondidos. Fugindo de um, me refugiando em outro.

Porto Alegre também guarda segredos meus. Com seu silêncio contido, a respiração da cidade é mais sutil que a que estava acostumada. Mas mesmo assim se faz perceber em raros momentos de calma. Não só meus, mas no meu imaginário sou a única a pisar em certas calçadas, onde meus pensamentos se enredam aos meus pés como que uma rede, que ora me faz tropeçar, ora me rende os mais lindos peixes. E sinto o ar da cidade, vibrante e nostálgico, dar um tom diferente ao meu pulsar, sem saber exatamente encontrar o lugar onde estarei inteiramente em paz com meu próprio pensar.

E de um em um, vou fugindo dos lugares secretos, vou buscando outros, sempre achando haver uma paisagem bonita atrás da cada muro, ao virar de cada esquina. Como que migrando, uma ave que vive por buscar o lugar adequado, sempre querendo algo logo além.



Até me esconder em um lugar secreto dentro de mim mesma. Mas aí nem eu própria consigo me encontrar.

domingo, 19 de junho de 2011

Fever

Não é fácil quando o sangue ferve. Me parece uma sensação quase imaginária, e mesmo assim impossível de ser ignorada. Pode-se simular os mesmos sorrisos meramente amenos, mas se sabe que por dentro dos olhos arde uma chama que tomou vida assim sem avisar. Talvez afirmem que não passa de sonhos adolescentes, os jovens sempre acham que podem ter tudo. Mas os tolos que não acreditam na força que emana por cada poro certamente não conheceu jamais e ardência do sangue em suas próprias veias.

Acordar em certo dia qualquer e ver sob um prisma completamente diferente as mesmas paisagens cotidianas, como se por uma cortina de vivacidade. Ou será somente que uma cortina de apatia foi removida?

Não se pode evitar os impulsos quando se sente o sangue correndo quente, em brasa por seu corpo. Incitando os sonhos, os desejos. Lhe dando a força para seguir e aquele olhar tão característico. Nunca viste alguém com o sangue em brasa? Aqueles olhos de vem comigo, em sei o caminho. Vem comigo vai ser bom. Emanando como fogo, inundando os mínimos espaços, fazendo arrepiar quem se vê por perto.

Quando o sangue ferve nunca é simples. Já vi antes, e sei que há de ser novamente. É necessário mais. O desafio, a pele, o calor, a conquista. O suor e o desejo. O olhar. Sem limites. Sem barreiras. Sem imposições. Não há como parar. Até o fim, até o fundo, sentindo cada gota dessa fonte, sentindo cada segundo desse ardor. Sentindo o fogo consumir suas forças, e a intensidade queimar, aproveitando até. Saboreando. Se destruindo. Renascendo

sexta-feira, 6 de maio de 2011

De sonhos e anseios

Me sopram suspiros de um mundo distante ao pé do ouvido em noites quietas. As manhãs lentas parecem me compelir a algo que não perfeitamente compreendo. Não traduzo as palavras que alcançam meus pés com o rumor da terra. Sinto, sem entender. Os muros de concreto, as janelas de vidro, o aço frio, cruel, transforma em caos o que era clareza, o que era límpido. Me sabotam os sonhos, alegando serem utópicos, impossíveis, ou  com simples sorrisos velados. Os tempos são outros, não há lugar para heróis, é o que ouço quando despejo meus anseios por sobre a mesa do jantar. Calam-se frente à dor e afirmam ser aquela a realidade imutável, para em seguida gritar o gol a plenos pulmões. Que tolice conhecer as pessoas, o que há de bom a conhecer? O que irá verdadeiramente conhecer? Nada do que dizes vale a pena. A cada sonho, as mesmas palavras. Mais fácil esconder por trás do vidro dos olhos o que alguma vez fora do que polir e resplandecer suas utopias em pleno dia. Isso são idéias de adolescentes, é preciso amadurecer e fazer o que se deve. Ou ainda pior, também já sonhei com a estrada, com o estrangeiro, mas um dia isso passou. Não posso admitir fechar a mente às forças que me impelem a ser algo mais que o simples dia após dia, passo após passo. Os suspiros do vento, nos raros momentos de clareza, me contam de terras distantes, de pessoas singulares, de algo fora desse lugar comum. Não me posso aceitar olhar sem realmente ver, escutar sem realmente ouvir, viver sem realmente conhecer. Não sei fazer simples esse horizonte que me aparece tão colorido, multi facetado, tão vasto, que me aparece em sonhos como se fosse a única possibilidade.

A estrada, la ruta, the road. O sentimento tão único de ao mesmo tempo em que se é livre, se voa qual pássado, se sente o vento acariciar os cabelos, também se é preso à estrada sempre em frente. Sem desistir, sem retornar. Sempre em frente. Sem precisar chegar, não há onde chegar, simplesmente ver, sentir, tocar, viver. Um fascínio que de certa forma faz parecer ser o único lugar onde se tem genuína tranquilidade, como se os pés se sentissem presos quando não tocando terras desconhecidas.

Meus sonhos me levam sempre mais longe. Não se pode, não vale a pena, se deve ter responsabilidade. Guarde sua responsabilidade com suas próprias limitações - geográficas ou não - que não há maior responsabilidade do que se responsável pelos outros. Não afogue em mares de indiferença o espírito aventureiro, sei que não só a mim se assemelham a prisões essas casas e prédios e ruas, e concreto, e buzinas, e vidro e aço frio por todos os lados que se olha. Consigo ver no fundo de seus olhos frios, amordaçado e preso, o desejo de também se ver livre, e por fim ver. Saber. Quero percorrer cada centímetro dessa terra, e conhecer cada drama e cada sorriso, ouvir as vozes e sentir os rios. Para poder então com firmeza afirmar que sim, eu vi, eu sei, eu vivi.

Vem comigo?

¿Cómo es posible sentir nostalgia por un mundo que nunca conocí? (Ernesto Guevara, Diarios de Motocicleta, 2004)
It's a dangerous business, going out your door. You step onto the road, and if you don't keep your feet, there's no telling where you might be swept off to.(Bilbo Bagging, Lord of the Rings, p.76)

domingo, 10 de abril de 2011

De poros bem abertos...

A vida é um grande clichê. O amor é o que nos aquece. Então, numa noite qualquer, em hora qualquer, em rua nenhuma a lua se mostrará crescente e eu quererei estar contigo pelo simples “estar”; que por si, não é simples.
A dama da noite reina e transborda o cheiro dequela que eu tenho sempre em pensamentos. E eu ouço como se todos os meus poros, neste momento, estivessem abertos, inevitavelmente, para o mundo.
A igreja permanece ali, no sereno, cor de rosa, sob a lua que só quer crescer, sob as nuvens gotejantes e eu prossigo. Por quanto tempo?
Carros, sirenes, bombeiros, cachorros. O gato mia um miado lamentoso para me atrair e me mostra as garras para me ferir. O mundo é uma guerra a qual não há esquivar-se. Um jogo precisa ser jogado e o campeonato será no fim de abril. O poodle quer minha atenção, mas ele é branco e nunca cortou as unhas. Eu quero chutá-lo, porém sou contra a violência física e tolerantemente dou-lhe um estalo de dedos e um sorriso. Ele dormirá tranqüilo: comeu, bebeu e passeou; sonhará com um sorriso.
Alguém faz aniversário, mas eu cheguei tarde para os parabéns, a festa acabou e as mães levam fatias de bolo para casa junto com seus filhos suados que cansados dormirão sem banho. A garagem enfestou-se pulgas e a faxineira não ganhará hora extra, o velho senhor, já caduco, espana a almofada da cadeira a meia noite para evitar a lepra trazida pelo gato preto que vigia a esquina. Ele não me olha. Os meninos param de falar quando eu passo de cabeça baixa. Na frente deles, o aleijado acaba de falecer. A vizinha velha, acaba de morrer e eu dançarei um samba ao entrar em casa, sozinha na sala de jantar. Sua filha chora enquanto eu danço. A menina apanha enquanto a mãe chora, a pequena não tem culpa, mas a sua progenitora precisa exorcizar suas raivas e ela é a escolhida.
Eu entro em casa como quem percorre um labirinto nunca explorado, no escuro tateio cacos de vidros. O carro está estragado e virará abóbora. Invado a casa com cheiro de peixe frito e me tranco no quarto. Não quero mais ouvir, não quero mais palavras, musicas ou cricrilar de insetos. Faça-me surda, aliena-me, não suporto tanta informação antípoda ao meu umbigo.
Alguém acaba de se suicidar, eu estou viva.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lírio avermelhado.

Você não ficou para ver os lírios. E eles rasgaram a terra vigorosamente chamando a atenção de todos, como você, outrora. Como a solidão, muita gente ocupou-se comigo: puseram boa música, recitaram poemas de amor enquanto as flores dilaceravam a minha pele, as minhas noites. Eu sorri a eles, falsamente.

Reguei seus lírios com minhas lágrimas e pedi aos deuses para que eles amanhecessem secos, amarelados. Mas eles eram forte. Eles eram...

No inverno as flores mantinham no seu lugar o cheiro de terra úmida e em potência aquelas flores brancas, eu clamava por paz. Muitos amigos roubaram mudas, levaram buquês para seus amores. Pássaros brincaram nos lírios enquanto eles me ardiam como chibatadas.

Então reencontrei aquela velha rede, escondida há anos dentro de um baú onde guardei teu cheiro. Por alguns momentos me deixei embalar por ela, pelo vento, no ritmo da desgraça dos seus lírios, me deixei desgraçar mais ainda na nossa varanda. Li alguns livros nos próximos dias, cinco ou seis. E da varanda via o tempo se fechar, anoitecer as 15h30 e nem a enxurrada era capaz de carregar o peso da minha alma. O vai-e-vem da lembrança da sua pele revigorava-se a cada vez que eu cruzava as escadas da frente habitada pela melancolia.

Eu comprei mil litros de vinho para amenizar minha desesperança e numa noite adormeci. Você entrou pelo jardim correndo e a maciez dos seus cabelos beijava o vento. Usava aquele vestido de verão e irradiava mais felicidade do que o sol. Que saudade eu sentia do seu sorriso. Senti seu cheiro doce quando nos abraçamos e eu não precisava de mais nada para ser feliz, entramos em casa e você nos fez panquecas enquanto eu passava um café fresquinho para nós. Lhe mostrei as pequenas bem feitorias que fiz em casa na sua ausência e você gostou. O nosso quarto ainda estava igual. Sua pele continuava a mesma e amamos como no primeiro dia em que entramos no nosso lar. Você adormeceu sorrindo, por trás das pálpebra rosadinhas haviam olhos luminosos de sentimento bom. Exausto e maximamente feliz, adormeci nos seu corpo; acordei com o seu cheiro, cheiro de lírios. E imerso nos lírios que você nunca quis ver suspirei. Eles estavam ainda mais brancos, como a sua pele, exalavam você pelos poros, balançavam com o vento que um dia brincou nos seus cabelos quando os plantamos numa manhã animada de sábado.

Fui ao supermercado e comprei tudo o que você mais gostava, eu te aguardava como nunca. Tomei banho, fiz a barba depois de meses e me pus digno de receber a pessoa mais esperada e desejada do universo. Jantei sozinho, você ligou atrasada, estava presa no transito da nossa cidade no fim do dia, mas não demorava. Mal podia esperar!

... os ponteiros giraram consecutivamente e a tempestade se fez novamente, nos meus olhos. Raios brindaram ao meu sentimento na nossa varanda; o vento revolveu a terra; e as flores brancas fecharam-se para não morrer. Tingi seu lírios com o vermelho do meu desespero.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Segredos de Liquidificador

Queria poder contar tantas coisas. Ao pé do ouvido, ou até por um bilhetinho amassado escondido por baixo de um presente. Soprar bem baixinho algumas palavras que nunca ousaram transpor meus pensamentos. Ter o sangue frio de dizer te amei, sabe..te amei tanto, te amei incondicionalmente, e iria ao fim do mundo pelo teu calor junto ao meu. E me fizeste chorar, sequer posso contar as lágrimas que me inundaram. Já tive tantos amores da minha vida nessa vida e depois de um tempo creio que se aprende a calar. Se aprende a viver em doses homeopáticas, embora se alardeie as capacidades de voar. Ou simplesmente se aprende a envelhecer, a temer, a se proteger e considerar mesmo sorrisos ameaças. E acaba não se avisando menina, me ame de volta, que te amarei sem limites. Esse envelhecer também me fez ver que o que eu julgava belo e impecável na verdade apresentava cantos puídos e faces mofadas. Mas por volta outras memórias só me fazem perceber o quanto era incontestavelmente bom, e não saber o que fez não ser mais. Quando se percebe as semelhanças entre o que se quer e o que se tinha, sequer o menina, volte para os meus braços, me deixe tentar de novo alcança os ouvidos já distantes.

Ainda se sabe o que é isso?
amar (a-mar) 
v.t.
Ter amor, afeição, ternura, dedicação, devoção a;

v.i.
Estar apaixonado: feliz é quem ama.
Sinônimos: sofrer

Me disse então uma amiga estou tão apaixonada e somente os sinônimos me apareceram à mente. Será que por baixo de cascas e cascas, enterrada em mantos de inércia, ainda é possível? E se quer? Ou a homeopatia já supre os desejos superficiais?
Sinceramente creio que por melhor que seja a calmaria, os melhores marinheiros sempre anseiam por uma tempestade.
Para voltar a contar ao pé do ouvido as verdades que nunca deveriam ser escondidas.