Helena tem pés de vento. E quer sempre ir mais alto e mais
rápido até ficar exausta, a partir daí, ela passa a não querer mais nada. Conhecê-la
é, não mais, do que tentar reconhecer o que sobrou do ontem nas primeiras horas
da manhã seguinte. E o que me assusta é a impressão de que volta-e-meia, nada
restou.
Helena exige de mim toda a força. E as vezes lhe digo
“adeus” pensando em não voltar. Mas, ainda mantenho a esperança, pequena como o
meu tamanho, de que eu voltarei amanhã ou no ano que vem. Não consigo entender
o porque de Helena estar no meu destino.
Agora consigo ver quando os olhos dela mudam de um instante
para outro e depois ela tentando esconder o descontentamento ou tentando
controlar sua falta de controle. Então, ela vai avançando sem olhar para trás e
se auto-entristece quando retrocede. Num momento vejo-á expandir-se como uma
galáxia e noutro ela é, ou quer ser, um átomo totalmente voltada para si num
lugar inatingível.
Helena é como um peixe que mergulha bem fundo em si mesma e
que n’outras horas se sente completamente em casa em um cardume novo, recém
chegado do norte.
Helena tem arestas que me ferem, não intencionalmente. Na
verdade, eu me firo nas incertezas dos olhos dela e no silêncio que nos invade a
cada viagem. E quando volto, eu concluo que nada restou e me sinto fracassada. Porque no fundo eu queria a sua reciprocidade, mas as tempestades de verão são livres
para existir independente do meu querer. Assim como eu, que sou livre ao tentar
permanecer no mundo dos vendavais soprados pelos pés de Helena.